Com o romance “A Cabeça de Séneca”, um médico neurologista de 35 anos, Paulo Mourão Bugalho, sagra-se como o segundo vencedor do Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís, por unanimidade do Júri, presidido pelo escritor e
ensaísta Vasco Graça Moura.
O Prémio foi instituído, pela primeira vez, em 2008, pela Estoril Sol, no quadro das comemorações do inquentenário da Empresa.
Desta vez, o Júri, ao eleger o romance “A Cabeça de Séneca”, tomou em consideração “a capacidade de criação de personagens, bem como as qualidades de estilo e de efabulação, e ainda o bem sucedido entrosamento entre uma experiência cultural, nomeadamente a decorrente da leitura e valorização dos clássicos e a experiência vivencial do quotidiano das figuras, que se combinam nesta obra de ficção”.
O autor, Paulo Mourão Bugalho, nasceu em Coimbra, onde viveu até aos quatro anos. Depois, foi viver para Évora, onde cresceu, até vir estudar para Lisboa, aos 18 anos. “Tirei o curso de medicina, completei a especialidade. Fiz um mestrado. Trabalho como Neurologista. Para além do trabalho clínico, tento fazer alguma investigação, publicando artigos em revistas científicas” diz.
É casado e tem uma filha de quatro anos. Vive em Lisboa. Não tem obra publicada, senão científica.
Escreve ficção desde os 22 anos e tem mais romances na gaveta, sem nunca ter lavado muito a sério a hipótese de publicá-los. Sobre as suas influências, observa que referi-las “ é tão mau como não o fazer.
Negá-las pode parecer vaidade, dar a ideia que nos achamos nascidos por geração espontânea, que somos o primeiro elemento de uma espécie nova de escritores. Por outro lado, reclamarmos ascendências demasiado perfeitas pode soar ridículo”.
Reconhece, contudo, por entre todos os autores de que gosta, “aquele que posso ter tentado imitar com este romance foi Saul Bellow, mas os resultados estão tão longe que me arrepio de confessá-lo. A ideia era juntar introspecção e movimento, realismo e pensamento, como Bellow faz tão bem. Criar um personagem que duvida de si próprio. Fica o esforço, pelo menos”.
Cita, entretanto, outros autores que actualmente o interessam, como Cormac MacCarthy e W.G. Sebald. Nos clássicos estrangeiros, inclui escritores inevitáveis, como Kafka, Thomas Mann, Robert Musil, Joyce e Proust. Portugueses contemporâneos interessa-se por Gonçalo M. Tavares. Depois, lembra “José Cardoso Pires, que tem romances perfeitos. E lembro-me de ter gostado muito do “Finisterra - Paisagem e Povoamento”, de Carlos de Oliveira. Eça de Queiroz é o pai deles todos, claro. Não sinto que qualquer
um destes me tenha influenciado, mas é possível”.
E o que leva um médico especialista em neurologia a ocupar o seu tempo livre com a escrita ficcional? Paulo Mourão Bugalho define, assim, as suas razões para escrever: “É mais ou menos um acto instintivo, cujas razões nunca são postas em causa. Sinto-me bem nesse lugar. Alimento-me de todos os passos, das pequenas, modestas iluminações da escrita, do modo como vão surgindo as personagens e da razão por trás de todos os seus gestos, da ideia por trás de tudo. Trata-se de um modo de conhecimento. E fruição
estética, simultaneamente. Gosto de romances de ideias. Criar narrativas permite, de certo modo, uma liberdade experimental que não é acessível por outros caminhos.”
E observa: “Einstein inventou a física imaginando-a. Certas ideias pedem a experimentação de certos cenários - o entendimento de um conceito moral, ou do relevo complexo de um sentimento, ou de um modo de existência, é facilitado pela construção física que permite observá-lo como facto hipotético. O personagem serve para desbravar esse caminho e fá-lo de um modo que nenhum outro método permite. A exploração de uma ideia, ou de uma obsessão - é isso que me interessa na escrita. E a criação de um
objecto complexo”.
O Júri do Prémio Revelação Agustina Bessa-Luís, integrou, além de Vasco Graça Moura, que presidiu, Guilherme D`Oliveira Martins, em representação do CNC – Centro Nacional de Cultura; José Manuel Mendes, pela Associação Portuguesa de Escritores; Maria Carlos Gil Loureiro, pela Direcção Geral do Livro e das Bibliotecas; Manuel Frias Martins, pela Associação Portuguesa dos Críticos Literários; e, ainda,
Maria Alzira Seixo e Liberto Cruz, convidados a título individual e Nuno Lima de Carvalho e Dinis de Abreu, em representação da Estoril Sol.
De acordo com o Regulamento só poderiam concorrer a este Prémio Revelação autores portugueses até aos 35 anos, com um romance inédito e ”sem qualquer obra publicada no género”. O valor do Prémio são 25 mil euros. A iniciativa conta, desde o primeiro momento, com o apoio da Gradiva, que assegura a edição da obra vencedora, através de um Protocolo com a Estoril Sol.
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